terça-feira, maio 05, 2009

Eu quero fazer nada

Ando por um redemoinho de mudanças. Mudanças que quero que me levem para o melhor de mim. Isso inclui leituras variadas de revistas banais até profundas meditações, respirações e mantras. Se me perguntarem por que não leio algo mais profundo. Digo: já li muita coisa profunda desde meus 10 anos de idade. Aos 31, guardo um monte de coisa na cachola mental que já eram para estar em prática há anos. Claro que não sei de tudo, mas enquanto eu não der um tempo no meu armazenamento, o aprofundamento e as novas coisas estão em stand by. O meu desejo mesmo é esvaziar. Não esvaziar no sentido de ficar burra novamente, mas o de experimentar o nada mental, pura flutuação e sensação de compartilhar o todo. Neste ínterim eu desejo voltar a consumir um monte de leitura profunda e interessante que eu ainda não li.
Voltando às leituras banais em uma dessas revistas banais, uma delas relacionou uma lista de sites interessantes. Um deles estava lá: o clube do nadismo www.clubedenadismo.com.br). Não é nudismo, apesar de eu ser apreciadora das vivências naturalistas, o momento agora é o do nadismo.
Passeando virtualmente pelo site do clube do nadismo me identifiquei completamente com a proposta. Não o fazer nada por ser vagabundo. Mas o nada do descanso, da paz, do tempo para si, das reflexões, da reciclagem interna e das novas decisões. O tempo que todos precisamos e deixamos de lado ao conhecer as tribulações da vida adulta.
Nesse momento todas as idéias antigas chacoalharam na minha cabeça. Veio a iluminação após tantos anos de incubação. Esse é um dos sinais que você tanto pediu para que o universo te mostrasse o caminho a seguir. O tempo que você queria para você mesma. O tempo do nada para você reavaliar sua vida. O tempo do nada para você voltar a escrever seus blogs. O tempo do nada para você se voltar para os seus antigos projetos. O tempo para dar o primeiro passo e realizar os seus desejos. O tempo do ócio criativo.
Então estou de volta. De volta da estagnação. De volta dos vícios. De volta do andar em círculos. Pronta para escalar montanhas e saltar de pára quedas. Pronta para viver o que a vida nos propõe de melhor. Pronta para desenraizar. Sim. Lelas Pops voltou para o blog. Emanuela voltou para a vida.
E toda esta prontidão para se dedicar ao nada que gera o tudo se iniciou com uma simples pergunta no site do nadismo, na página para se tornar sócio do clube: Quem é você? Tão simples pergunta e tão difícil de ser respondida. Lembrei-me do meu perfil do Orkut e de como me sentia atualmente: Uma pequena fala no universo. Um trecho de música do Karnak que conseguia resumir todo o meu sentimento com relação aos meus poderes humanos, e toda a sensação da minha contribuição para a humanidade. Ao mesmo tempo tão pequena no meio do universo e tão única como toda essência humana é.
E foi assim que eu respondi.
Uma pequena fala no universo que desistiu de transformar o mundo com ações, mas o tenta com o silêncio – a ação do silêncio. Alguém que adora fazer nada, relaxar, curtir a vida e as pessoas (amigos, famílias e desconhecidos), pensar e aproveitar o ócio de forma criativa. Posso dizer que uma das coisas que mais faço por mim é não fazer nada. Acabo dormindo de não fazer nada. A minha mente fica muito fértil de tantas idéias para tantas coisas depois de um tempo de não fazer nada.
O fazer nada já existia na minha vida quando criança, mas eu não conseguia ver sentido nele para um futuro cheio de ações que me aguardava. Até que abandonei a idéia de virar eremita, monge budista ou mochileira para viver a vida que todos vivem: a de tentar fazer tudo o que puder e preencher todos os espaços vazios de tempo. Foi nesse tempo de vida que fiz minha faculdade de propaganda e publicidade atraída pelo mundo da criação. E foi nela que encontrei sentido para o não fazer nada no processo criativo que estava tão presente na minha vida. Foi durante a jornada da faculdade que conheci a importância do ócio criativo e vi mil possibilidades para as coisas que eu queria fazer. Mas acabei seguindo o caminho do não ócio, assim como desisti de fugir para o mosteiro.
Nasci assim. Desde criança pensando sobre tudo que envolve a existência, sentido e vida. Nunca soube ao certo o que queria fazer quando crescer porque sempre quis experimentar de tudo. Sempre soube o que eu não queria fazer, e, por incrível que pareça, acabei fazendo muito do que não queria fazer, só para me testar ou tentar superar os meus pré-conceitos estabelecidos por uma visão reflexiva e crítica do mundo e das coisas. Por fim, acabo sempre confirmando que realmente não queria fazer aquilo...
Penso que estamos aqui para aproveitar a vida da melhor forma possível, realizando, observando, meditando e percebendo o que temos em volta e qual a sua real utilidade. Talvez estejamos aqui para testarmos as nossas possibilidades de criação, invenção e sobrevivência da forma mais equilibrada possível, mas acabamos por criar ninhos de destruição ao tentarmos superar a ultima invenção ou a mais nova modalidade de sobrevivência, o que nos leva a autodestruição.
A experiência de passar dois anos de correria intensa no trabalho para mostrar a mim e a minha família que eu poderia ter sucesso. Após dedicar quatro anos de estudo de graduação e trabalho seguidos de dois anos intensos de duas pós-graduações, foi o bastante para perceber que tudo que eu estava conduzindo poderia estar me levando para mais um dos pontos que eu não queria para a minha vida: o eterno stress e falta de tempo para as pessoas amadas. Como já sabia no que isso iria dar, a partir desse momento, resolvi fazer as coisas que gosto para me sentir bem e buscar ser feliz. Sempre achei que buscar a felicidade estaria diretamente ligado em trazer a felicidade para os outros, sendo altruísta, e muitas vezes deixando o que gosto de lado. Transformar a minha realidade e não a dos outros, passa a ser a minha meta a partir de agora. Comecei esse processo a poucos meses, desacelerando aos poucos, pois não tive grande apoio da família. O processo de desacelerar é um bom momento para me projetar para onde quero e para a família se acostumar com a idéia. Espero que essa realidade transformada seja exemplo para outras pessoas que não consigo atingir porque já estão bombardeadas de tantas informações persuasivas. Acima de tudo, espero que essa realidade transformada gere felicidade interna e ao redor envolvendo os próximos numa onda imensa de felicidade. Ser feliz é o bastante para contagiar o próximo de felicidade.
Por enquanto, ainda ensino na universidade, mas desisti de me dedicar ao crescimento nesta profissão para seguir os meus sonhos, literalmente, as idéias geradas durante o fazer nada acumulado dos 31 anos da minha vida. Isso acarretou numa grande quantidade de boca aberta em minha direção, e me gerou apelidos de maluca, doida varrida e desequilibrada, entre amigos e familiares. Mas isso não importa, porque estou muito feliz de seguir o que sempre quis seguir. Se alguém perguntar o porquê e não entender que estou em busca da felicidade, e que isso consiste em reservar um tempo para o nada. Eu digo que é normal o publicitário arranjar coisas novas e diferentes para fazer ou para implantar na sociedade, e que esse é o trabalho dele.

Nesse mundo de hoje, até para não fazer nada precisamos de um empurrãozinho. Se for o caso, faremos nada juntos.

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